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01/07/07

Vasco Pulido Valente - Bis (clap, clap,...)

Vasco Pulido Valente, em 30/06/2007, no Público:

"Depois do "caso Charrua" (que, para espanto de quem se julga num país democrático, acabou mesmo condenado), aparece agora um novo caso. As circunstâncias são parecidas. Parece que o médico António Salgado de Almeida, vereador da CDU, durante um fim-de-semana, resolveu pôr numa parede do Centro de Saúde de Vieira do Minho uma entrevista do ministro Correia de Campos. Nessa entrevista, Correia de Campos dizia que, no caso de ter a vida em risco, não iria a um Centro. O crime estava em que, por baixo desta declaração, alguém escrevera "Façam como ele. Vão a uma urgência de Braga" ou coisa equivalente.

Aqui apareceu uma figura já típica do regime, o denunciante, na previsível pele de "um membro do PS". O denunciante fotografou a entrevista, agora promovida a "cartaz", "pediu o Livro Amarelo para fazer um queixa" e comunicou o escândalo à autoridade política, ou seja, à Administração Regional de Saúde (ARS/Norte).A directora do Centro de Vieira do Minho, Maria Celeste Cardoso, não sabia do cartaz. Mas, quando soube, "repreendeu" o médico (não se percebe muito bem porquê). Infelizmente, a ARS/Norte não se deu por satisfeita. A "repreensão" não bastava para um acto tão grave. A ARS/Norte queria esmagar o celerado; queria nomeadamente que Maria Celeste Cardoso instaurasse um processo disciplinar ao médico. E, como ela se recusou, foi demitida por um ofício de Correia de Campos. Para tudo ser perfeito, Maria Celeste Cardoso é casada com um PSD, vice-presidente da Câmara de Vieira do Minho, e o Governo nomeou para a substituir um vereador ("independente") do PS de Ponte de Barca.A moral da história é simples: o PS, que os portugueses se habituaram a ver como o defensor da liberdade e da democracia, não passa hoje de um partido intolerante e persecutório, que age por denúncia (aqui como na DREN) e tem uma rede potencial de esbirros, pronta a punir e a liquidar qualquer português por puro delito de opinião. Pior ainda, personagens como Correia de Campos colaboram pessoalmente nesta lamentável empresa de intimidação. Não admira. Nem o eng. Sócrates nem o dr. Cavaco manifestamente compreendem que a repressão da dissidência e da crítica começa a corromper o regime e torna inevitável o futuro "saneamento" dos "saneadores". O silêncio de cima encoraja o miserável trabalho de baixo. Em Portugal, a colaboração do Estado com os pequenos pides do PS já não é uma vergonha".

29/06/07

Vasco Pulido Valente

Vasco Pulido Valente, em 28/06/2007, no Público:
Viver sem fumar é como escrever sem pontuação. Pelo menos, para mim. A pequena cerimónia de acender um cigarro marca um “tempo”: o princípio do dia, o princípio do trabalho, cada intervalo ou cada distracção, o alívio (ou o prazer) de acabar qualquer coisa, o almoço (quando almoço), o jantar (quando janto), o fim do dia, antes de fechar a luz, como um ponto parágrafo. O cigarro divide, acentua, encoraja, consola. Abre e fecha.
É uma estação e uma recapitulação. “Já cheguei aqui. Falta ainda isto, isto e aquilo”. Nas poucas vezes que tentei não fumar, tinha um sentimento de desordem, de arbitrariedade, de não saber passar de um frase a outra ou de um capítulo ao capítulo seguinte. Os fumadores, se repararem bem, não fumam ao acaso; fumam com ritmo.O cigarro também é uma companhia. Sobretudo para quem trabalha sozinho. A maior parte das pessoas vai falando, pouco ou muito, durante o trabalho. Por necessidade ou por gozo próprio. Do “serviço” à intriga, há milhares de oportunidades para o grande e simpático exercício de conhecer o próximo: para gostar dele ou para o detestar, para o observar, o comentar ou o intrigar. De porta fechada, à frente de um computador ou de um livro, não há nada à volta. Aí o cigarro ajuda. É um fiel amigo: a pausa que torna o resto tolerável. E que, além disso, recompensa uma boa ideia ou manifesta o entusiasmo ou a execração pelo que se leu. Com quem se pode conversar senão com o cigarro? De certa maneira, o cigarro substitui a humanidade; e não me obriguem a fazer analogias. Mas, principalmente, fumar serve para pensar. Quando, a ler ou a escrever, paro a meio de uma página, porque me perdi num argumento ou não consigo imaginar como se continua, pego num cigarro e penso. Não me levanto, não me agito, não abro a boca, não me distraio. Fumo e procuro com paciência a asneira. O cigarro concentra e acalma. Restabelece, por assim dizer, a normalidade.E este efeito “normalizador” é com certeza uma das suas maiores virtudes. Não comecei a fumar para ser adulto ou “viril”. Comecei a fumar porque sou horrorosamente tímido e porque o cigarro é com certeza a maior defesa dos tímidos. Primeiro, porque ocupa as mãos e simula um arzinho de à-vontade. E, segundo, porque esconde e protege ou cria a ilusão de que esconde e protege. Por detrás de um cigarro, o mundo parece mais seguro. Mesmo se andam por aí a garantir que não.

09/05/07

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Gostei de ler no In Absentia, um texto sobre uma das mais importantes obras de Flaubert. E ainda bem, por três motivos: de vez em quando inclino-me para um romance histórico e este não me parece nada uma segunda escolha; depois descobri que tinha cá o dito Salammbô numa edição antiga dos Amigos do Livro, e nem sabia; por último, revisitar em romance o norte de Tunis e recordar o património arqueológico que vi "in loco" dos portos comercial e militar da antiga Cartago, é cimentar o imaginário do império que fez frente aos Romanos no seu próprio território.

A ler também uma imperdível opinião sobre a "Madame Bovary", da saudosa Silvie.

03/05/07

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Ele há coisas...
Este post poderia ter outro título como: Depois de Mariano Gago, Jorge Coelho, etc..., lá apareceu mais um a usar a peneira para tapar o sol.

António José Saraiva, assina este interessante artigo no blog do jornal Sol, que vale sim, pela descrição histórica do que foram e por onde passaram as nossas actuais elites. Ou seja, os 2 primeiros terços do texto, porque as conclusões depois de se escudarem em antigos hábitos e prácticas que não se coadunam com a actualidade, exalam um forte e profundo odor a eufemismos. A ler, portanto, a seguir:
Os engenheiros técnicos
No tempo em que eu fiz a escola primária, os miúdos dividiam-se em duas categorias: os que, uma vez concluída a 4.ª classe, deixavam de estudar para irem trabalhar e ajudar os pais nas despesas da casa, e os que continuavam os estudos. Estes, por sua vez, ainda se dividiam em dois grupos: os que iam para o liceu e os que iam para a escola técnica. Os que iam para o liceu eram os filhos dos ‘ricos’, os da escola técnica eram os ‘remediados’. Claro que os ‘ricos’ quase nunca eram ricos, pertenciam à classe média ou mesmo à pequena burguesia, e os ‘remediados’ muitas vezes eram pobres cujas famílias faziam das tripas coração para os filhos poderem estudar.
Os que seguiam o liceu cumpriam sete anos – e depois tinham pela frente a faculdade. Os que iam para as escolas técnicas cumpriam cinco – e daí transitavam para os institutos industriais ou comerciais.E é aqui que começa verdadeiramente a nossa história.

Ao terminarem os cursos nos institutos industriais ou comerciais, os formandos ficavam com o título de ‘agentes técnicos’, ‘regentes agrícolas’ ou ‘contabilistas’.Devo dizer que, com honrosas excepções, estas pessoas viviam cheias de complexos. Porque eram tratadas por ‘senhores engenheiros’ (os agentes técnicos e os regentes agrícolas) ou por ‘senhores doutores’ (os contabilistas), mas sabiam que não eram nem engenheiros nem doutores. No máximo, eram ‘engenheiros de segunda’ ou ‘doutores de segunda’. Mas também, convenhamos, não dava jeito nenhum tratá-los por «senhor agente técnico» ou «senhor regente agrícola». Além de que, nestas designações académicas, estava presente um estigma de classe. De casta. Os agentes técnicos, os regentes agrícolas e os contabilistas eram em geral oriundos de famílias cujos pais, como vimos, não tinham posses para mandarem os filhos para o liceu. Eram os ‘filhos dos remediados’. E essa ideia de casta magoava, representava um ferrete para toda a vida.


Assim, a partir de certa altura – no tempo de Marcello Caetano –, quando um sopro de democratização atravessou o país, os agentes técnicos e os regentes agrícolas passaram a ser oficialmente designados por ‘engenheiros técnicos’. E, deste modo, a divisão entre verdadeiros e falsos engenheiros atenuou-se. Eram todos engenheiros – embora uns tivessem no título um pequeno acrescento, na maior parte das vezes omitido, que era a palavra ‘técnico’.
Conheci relativamente bem esta realidade, porque a minha mãe foi durante muitos anos professora de um desses estabelecimentos onde se tiravam cursos médios – o Instituto Comercial de Lisboa, à Rua das Chagas –, onde foi professora de alguns jovens que viriam a tornar-se célebres e a ter um importante papel no futuro do país: Cavaco Silva, Ernâni Lopes, Eduardo Catroga, Mário Castrim (aliás, Manuel Nunes da Fonseca).
Esse mal-estar que atingia os engenheiros ou os economistas ‘de segunda’, mesmo depois da emenda legal que lhes alterou o nome, levava muitos deles a inscreverem-se posteriormente na universidade para se tornarem ‘verdadeiros engenheiros’ ou ‘verdadeiros economistas’.Foram os casos, por exemplo, de Cavaco, Ernâni e Catroga – que, depois de serem alunos da minha mãe, pediram a equivalência a Económicas e fizeram no Quelhas as cadeiras que lhes faltavam para serem mesmo ‘senhores doutores’.

Foi mais ou menos esta a história de José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, que tanta tinta tem feito correr e afinal se resume a muito pouco.Fez o liceu na Covilhã, como os meninos ‘ricos’. Mas o encerramento, a seguir ao 25 de Abril, da Faculdade de Engenharia do Porto, onde o pai o tinha matriculado, levou-o a inscrever-se num curso médio que lhe dava apenas direito ao título de ‘engenheiro técnico’. Assim, mais tarde, como milhares de outros engenheiros técnicos, Sócrates sentiu necessidade de ter um curso superior, de usar o título de engenheiro sem complexos por não o ser verdadeiramente – e matriculou-se numa universidade que, por não ter grande exigência, não o obrigava a muito trabalho: a Universidade Independente.Deram-lhe as equivalências que entenderam dar (justas ou injustas), fizeram-lhe os exames que entenderam fazer (concedendo-lhe mais ou menos facilidades) – e Sócrates lá ficou engenheiro sem a palavra ‘técnico’ à frente.

À semelhança de muitos outros agentes técnicos, regentes agrícolas e contabilistas por esse país fora, José Sócrates quis limpar essa ‘nódoa’ do seu passado, esse ferrete que significava para quase todos uma marca de classe.Isso constituirá um crime?E que necessidade há de remexer na ferida, de lhe atirar à cara que antes não era bem engenheiro e hoje o é por favor?No fundo, aqueles que atacam Sócrates fazem-no ou por uma mal disfarçada ‘superioridade de classe’ – como quem diz: tu não és um dos nossos – ou por um certo sentimento de inveja – por não se terem formado e não quererem que Sócrates passe por ser mais do que eles.

A mim, a licenciatura do primeiro-ministro não faz nenhuma confusão. Admito que tenha havido aqui ou ali uma certa facilidade. Mas isso terá importância para encher páginas e páginas de jornais ditos ‘sérios’? E quantos alunos se formaram em universidades privadas e públicas sem terem o mínimo de capacidades para serem doutores ou engenheiros?Compreende-se, por todo o envolvimento social, que Sócrates tenha querido ter um canudo. Mas isso não o faz melhor nem pior primeiro-ministro. E quantos têm um canudo que ninguém contesta e não serviriam sequer para dactilógrafos da presidência do Conselho de Ministros?

Publicação: Saturday, April 28, 2007 10:00 AM por JAS

23/04/07

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Texto assinado por Alfredo Barroso, no Traço Grosso:

«...SEMPRE FUI UM O’NEILLISTA, confesso. Pelo menos desde quando me atrevi a dizer em público Um adeus português, era ainda um rapazelho, muito verdes anos, a apanhar bonés na vida. E não há-de ser agora, que já palmilho há um bom par de anos a casa dos sessenta, que vou deixar de o ser. Burro velho não aprende línguas, nem vira casacas.
Esta advertência é indispensável para se perceber melhor a grande incomodidade e a imensa desdita de quem vive em «ALUMINIÓPOLIS». Já lá vão mais de vinte anos, o poeta avisou em prosa: «O alumínio está a expandir-se assustadoramente». Mais: «Por estes andares, Lisboa vai ter, não tarda muito, poentes e nascentes de alumínio». Já tem. Todo o país se passou, paulatinamente, para o alumínio. Em sentido real e figurado.
A estética do alumínio, com a sua caixilharia refulgente, saltou do urbanismo e da arquitectura de marquise para a política, a literatura, a música, os jornais, a rádio e a televisão de cordel. O «mau gosto gritante que o alumínio inculca» não é privilégio de mestres-de-obras e edis pragmáticos. É democraticamente partilhado por demagogos de feira, políticos de plástico, escrevinhadores a peso, publicistas a metro, apresentadores à hora, repórteres ao minuto, pantomineiros sem eira nem beira, aves canoras em saldo.


A estética do alumínio aposta a fundo na expressão de realce despropositada. É o frigorífico na sala de jantar com naperon em cima. É a inútil multiplicação de rotundas, cada qual com o seu mamarracho ao centro. É a bossa de camelo incrustada num corpo escorreito, que fica marreco. É o discurso da banha da cobra, que despreza a subtileza. É o riso alarve, que despreza a ironia. É o sonho dos néscios e o pesadelo dos incautos.
«Verdadeiros berros» e «autênticas fífias de alumínio» brotam insidiosamente de inúmeras fachadas, aproveitando todas as «janelas de oportunidade» para se expandirem e encaixilharem as suas marquises no nosso quotidiano de cidadãos desprevenidos. Já se sabe que uma larga maioria gosta e uma curta minoria não. Por isso, a pergunta do poeta lá se vai repetindo com ironia e desalento: «Então não é verdade que estamos kitsch?».

A democracia tem perversidades destas. É como «uma mulher em forma de S, de roupão florido e canteiro de papelotes à cabeça». Se estivesse vestida de papel de jornal «não faria mais restolho». É assim «porque é mais prático e, o que é pior, para tantos e tantos MAIS BONITO», como lamentava O’Neill. Mas também porque assim fica mais barato e é mais lucrativo. Indiferente ao gosto, o que o bezerro de oiro quer é facturar.
O o’neillismo é um pessimismo, como já perceberam. Mas não se confunde com resignação cristã. Mantém a lucidez e a ironia. Chateia-se solenemente. Protesta em voz alta. Indigna-se e não se conforma com a expansão do alumínio, reclamando o recurso a materiais mais nobres. Sem se iludir, todavia, quanto ao futuro da construção civil, dos mestres-de-obras e dos capatazes neste cada vez mais metafórico país encaixilhado em alumínio. Nem, aliás, quanto ao futuro da Pátria, da República, da Europa e do Mundo.

NOTA1: Esta crónica foi escrita para o derradeiro número da Revista «6ª» do «DN», cuja publicação deveria cessar no dia 13 de Abril de 2007, mas, afinal, cessou no passado dia 6 de Abril...»

05/02/07

"A Rainha da Sucata"

Com a devida autorização do autor, faço aqui a transcrição integral do post "A Rainha da Sucata", que considero um excelente retrato de extractos da nossa sociedade, onde, laborando nas áreas aí chamadas, naturalmente, também estou inserido. A ler, portanto:
«Meu caro F.
Quem sou eu (literalmente...) para opinar sobre o quintal do design português, a “quinta” da Experimenta ou o diabo a cinco... É tudo muito aí da “vossa” capital... No meu quintal (na minha tasca) as pessoas não sabem a diferença entre o engenheiro e o arquitecto, e não percebem nada dessas modernices com nomes estrangeiros como “Guta” e Design?
Não sei se tenho qualquer coisa com o mínimo de interesse para dizer quanto mais para escrever... Sei que como diz o sempre proverbialmente correcto povo Vencedor (com maiúscula, os campeões...), em terra de cegos, quem os tem no olho ou é rei, ou é rainha... da sucata!
Em Portugal (e até por aqui, pela nossa blogosfera...) existem umas personagens que quando se vêem primeiro, se arrogam a um qualquer e-status e depois... ai de quem os pontapeie (n)o pedestal...
Vai daí, e quando “contrariados” (os mimados), é de “assassino” (cultural) para... cima! (Parte do charme, do talento destes figurões e figurinhas, é o açaime da linguagem, devidamente convertida em “sound-bytes” alfanuméricos.)
Mas como apesar de não ter nada para dizer não paro de escrever, sempre acrescento mais alguns despropósitos em “forma-nova” de Novas Mitologias:Um político sem “carisma” em queda – Mito da maldade congénita da política em geral e do poder local em particular... Uma beleza indignada – Mito da “virgem ofendida”... Um “consultor internacional chocado” – Mito do provinciano pacóvio... Uma página Web – Mito “choque electrónico”... E uma comunicação social acrítica, habituada (“criada”...) a pastorear nos verdejantes oásis dos corredores do poder enquanto embala uma infantil sociedade “civil” que ainda não entrou na idade dos porquês...O cara-de-mona-lisa cortou no subsídio e a Guta esperneia.A cultura ficou mais pobre... a cultura está de luto...E da Guta ao Amadeo... vai um shot... quântico!
O que é que tu queres mesmo que eu comente?»