21/08/07

O Último Adeus

Na sequência do período aqui em apreço, e ainda dentro da colecção livros de bolso DN, vire-se agora o foco para um escritor francês do início do séc. XIX - Honoré de Balzac, 1799 -1850. Ficou conhecido por ser um incorrigível fundista da escrita, porque para Balzac, escrever tornou-se tão importante como respirar. Sem a escrita, a vida para este françês de aspecto generoso seria bastante mais difícil, além do mais o único redimento provinha das suas produções literárias - contam-se mais de 90 romances. O romantismo, as magníficas descrições da sociedade francesa, a dureza da guerra, o regime de Napoleão, as histórias de amor impossíveis, a nobreza, a burguesia e o supérfulo do lixo-social..., marcam a sua obra de forma inconfundível. Eugénia Grandet, talvez o mais (re)conhecido romance, é um marco muito importante, sendo exemplo do que atrás referi os seguintes elementos da narrativa : uma mansão, uma fortuna, um pai e uma mãe autoritários que vivem com uma adorável filha que nasce em berço de ouro e..., um pretendente, zeloso da sua figura para impressionar a filha solteira, mas sobretudo, o sr. Grandet.
Ora aqui está a fórmula base dos enredos de Balzac, caracterizados pelo realismo e pelo romantismo. A partir daqui é só juntar um talento sem igual e um fôlego de fundista. Balzac possuía tudo isso, e ainda lhe adicionou o próprio estilo um pouco altivo, mas com um humor e uma capacidade pouco vistos.

O Último Adeus [Adieu], é tida como uma pequena grande história de amor, vivida num curto episódio entre um jovem oficial de infantaria e uma jovem condessa num contexto histórico idêntico ao de Eugénia Grandet. A novela é pequena, porém, mostra-se rica e densa. O cenário é o da guerra napoleónica na Rússia, onde a tragédia humana e o grande drama amoroso fazem mossa ao leitor. O fortuito encontro e desencontro naquela fatídica travessia fluvial para a Polónia, fez crescer nos dois jovens uma paixão arrebatadora. A separação traumatizante e a loucura final completam a estrutura desta rocambolesca novela protagonizada por Philippe de Sucy e por Stéphanie, a condessa Vandières.
Em paralelo a estas fatalidades, não por isso menos importante, Balzac faz realçar a traço grosso um dos momentos mais negros da história francesa daquele século, provavelmente o verdadeiro causador do estado de espírito que a nação carregou em seus ombros durante décadas, e dos quais ainda existe uma sombra.
É natural que neste "Adieu" transpareça uma crítica tardia à política Napoleónica, sendo demonstrativa do que no íntimo o escritor pensava da expansão francesa. Nas narrações da campanha russa,
Balzac evidenciou nos movimentos militares o desencanto e a miséria da retirada das tropas dos territórios do Czar. Nestas, não senti qualquer rasto que cantasse as glórias anteriores do imperador-déspota; notei sobretudo, a crueldade dos despojos de guerra e o louvor ao sentimento humano, desesperado em tais circunstâncias, no entanto admiravelmente solidário e virtuoso, presente no espírito do Soldado raso ao do General: "Desgraçados, trinta mil desgraçados pouco mais ou menos, filhos de todas as nações que Napoleão lançara contra a Rússia, ali estavam jogando a sua vida com uma despreocupação brutal", ..."O General levou a mão à testa e quedou silencioso. Sentia que a Polónia iria ser o seu túmulo e que voz alguma se ergueria em defesa daqueles homens sublimes que se haviam mantido dentro de água, a água do Beresina...".
Não deixei contudo, nalgumas descrições feitas, de sentir em Balzac um bocadinho de Eça e um pouco de Garret. Ou vice-versa!
No adaptação do romance ao cinema foi protagonizado por Gérard Depardieu num filme com o mesmo nome. [classif:18/20]

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