28/05/07

O Codex 632


Com o lançamento do livro “O Codex 632” em Novembro de 2005, o jornalista José Rodrigues dos Santos (JRS) (re)lança para a praça pública a questão da duvidosa origem do grande navegador e descobridor da América, Cristóvão Colombo, cuja nacionalidade Genovesa tem sido impingida ao longo dos séculos ao leitor comum, pelos que zelam da história universal.
Contudo, longe do conhecimento do leitor comum, que acaba por ser o que mais contribui para o êxito comercial de obras como o Codex, o tema de Colombo já foi objecto de vários estudos, de onde quero destacar o trabalho desenvolvido pelo português Mascarenhas Barreto levando à estampa em 1988 "O Português Cristóvão Colombo - Agente Secreto do Rei Dom João II". Pelo seu título me quedo, com o simples e inquietante intuito de virar a atenção para o tema deste romance de JRS, onde a narrativa ficcionada, no mínimo, inspirou-se em Mascarenhas. (Sublinho isto porque há até quem defenda que cometeu plágio).
De outros estudos sobre Colombo, assinalo uma recente compilação da De Agostini editada na colecção Enigmas da História em dvd, que dá asas à tese de um Colombo Catalão com bastante interesse, mas desenvolvida e alicerçada na análise ao ADN das ossadas que jazem em Sevilha no túmulo do navegador, cujos inconclusivos resultados vieram somente colorir e exaltar a hipotética origem catalã de Cristóvão Colombo. Criem as teses que quiserem, hajam as discussões que houverem, JRS num exercício histórico-literário, que Herculano visionara como os melhores para a divulgação da história e do conhecimento, pega no tema e dá-lhe a forma de um romance histórico, conferindo-lhe a dimensão que nenhum dos referidos estudos jamais conseguira no país, e veicula pelos mais de 140.000 exemplares vendidos a tese de um Colombo português e a perspicaz política que D. João II soube desenvolver na corrida aos descobrimentos entre Portugal e Espanha. Com este recheio, acumulado à recente obra "A Filha do Capitão", JRS cai novamente no campo da ficção onde enceta uma surpreendente pesquisa sobre a origem de Colombo, que nos conduz pela mão do principal personagem, o professor Tomás Noronha, perito em criptanálise e línguas antigas, a uma entusiasmante viagem pelos locais e pelos meandros que adensam as 550 páginas do livro.
O autor, paciente e rigoroso na construção da narrativa, faz situar o enredo numa Lisboa contemporânea, dando ênfase à sua condição de capital de um país da periferia dos grandes centros europeus, outrora mentor das descobertas mas que agora é ignorado, restando-lhe o património arquitectónico brilhantemente revisitado nos seus baluartes como pano de fundo dos principais diálogos.
Contratado por uma organização americana que pretendia abrilhantar com novos factos históricos as comemorações dos 500 anos do achamento do Brasil, Tomás, ao retomar o trabalho de um velho colega investigador que entretanto falecera, empenhou-se e viu nesse projecto um escape moral e financeiro de uma vida rotineira, acrescida dos problemas físicos da filha no meio de um casamento que só existia nas fotografias nupciais, espalhadas pelo modesto apartamento numa qualquer periferia de Lisboa.
O professor, catalisado pelo dinheiro e por outros sedutores desafios, faz um périplo pelos locais chave da vida de “Cristóbal Colón” presentes na biografia assinada pelo seu filho Hernando, e viaja para Génova, Sevilha e Jerusalém, entre outros locais, tentando montar e desmontar vários puzzles pejados de códigos e enigmas um pouco na “tradição” do Código da Vinci.
Tomás Noronha recupera e alinha as pesquisas do velho investigador, e lentamente esboça a origem portuguesa de Colombo, fundamentando a dita teoria em documentos reais, segundo afirma JRS, que inevitavelmente após confrontação de datas, lugares e outros conteúdos o levaram a essa dedução, tais são as incongruências, contradições e aparentes falsidades que tradutores e historiadores produziram ao longo dos séculos.
Talvez aconteça no decorrer destas conclusões, que as descrições se tornem um pouco extensas e demoradas, tais são os pormenores, episódios e datas que dão corpo aos longos parágrafos da apurada investigação, tornando-os nas partes mais monótonas do romance.
Em síntese final, este novo livro de JRS dignifica grandemente o nosso valoroso passado histórico, sublinhando aspectos singulares que estiveram na origem da grande epopeia portuguesa e da vida de Cristóvão Colombo. Pessoalmente, apesar do "cheirinho" aos enigmas à Dan Brown, este Codex foi uma agradável surpresa não só pela valia do conhecimento transmitido acerca da vida do descobridor, como também pela (minha) descoberta da capacidade que o autor possui como escritor e como coordenador de um trabalho de consulta e recolha histórica em vários assuntos.
Será pois um romance a ter em atenção e consequentemente, desenvolver um raciocínio individual, que seguramente nos conduzirá a ilações semelhantes às de JRS acerca da nacionalidade de Colombo, sem fugir contudo à noção de que se trata de uma ficção. De uma boa ficção.

1 comentário:

Victor Figueiredo disse...

Link relacionado com o eventual plágio De JRS a Mascarenhas Barreto:

http://viriatos.blogspot.com/2005/10/descobertas-e-descobridores.html