30/10/06

Ninguém Escreve ao Coronel

A esperança é que nos aguenta!
Esta podia ser a grande ilação deste conto, mas a conclusão acaba por ser transversal, quando ao fim das 100 páginas, recordo lentamente, com um sorriso, o cativante enredo e as personagens.
Gabriel García Márquez
, de novo não me desiludiu. Dir-se-ia que neste conto, G.G.M. afina a habilidade literária e faz o ensaio para a "Crónica de uma Morte Anunciada". Quase que sinto a sombra de “Santiago Nasar”...

Mas não. Considerada uma ode à esperança e uma sátira à burocracia dos países da América do Sul, a novela foi escrita em 1956 e relata num ambiente pleno de emoções, a espera de um Coronel pela pensão de veterano anunciada há 15 anos por um governo deposto. Uma promessa para não cumprir, portanto.
O Coronel, crendo ou não na promessa, com a pontualidade de quem tem todo o tempo do mundo, apresentava-se semana após semana ao “administrador” do correio. À espera.
Ninguém escrevia ao Coronel!
Desolado, nem forças tinha para encarar o regresso a casa. A mulher asmática, entre aquelas 4 paredes caducas, desdobrava-se em esforços para manter o lar de pé, e acabava ela em conversas secas de marido/mulher, por recobrar o ânimo ao velho de 75 anos.
Mesmo com as sucessivas decepções e a progressiva decadência, a difícil disciplina da espera é que lhe valia, apesar daquele clima tropical. A pensão prometida nunca mais chegava, e até lá, racionavam-se todos os víveres desde o café à roupa.

Por maior que seja a miséria, há sempre uma carolice que se alimenta com os anéis dos dedos em nome de uma falsa esperança, movida por um cego anseio de fáceis proveitos. O galo. O galo que dá cor à capa do livro, deixado pelo filho ao Coronel. Era um belo exemplar de combate, e, funcionando como um dado lançado ao veludo da mesa de jogo, a desgraçada família apostava na força do galináceo, o pouco que ainda restava daquela vida hipotecada…
Retrato danado, este! A barriga enganada com raspas e o peito lustroso envergando uma toilette com meias-solas carcomidas, a estoirar tudo num jogo de sorte com a imagem da hipotética pensão a pairar num horizonte de salvação!
Onde é que já vi isto? Onde é que já senti tão "peculiar” sentimento de esperança e tristeza, do salvador que nunca mais chega, da crise que nunca mais termina, do estado burocrata que não larga os mesmos vícios e os vermes que, ciclo após ciclo, se vão instalando confortavelmente magicando trapaças atrás de trapaças?
A solução, com aquele calor a torrar os miolos, não vai muito além do improviso rápido e fácil, da manha encapotada, da chico-espertice e do Deus dará! Toca a pegar no galo e embora para as lutas; mas antes disso a quem vamos pedir vinte e cinco brasas? Toca a desenrascar, novamente.
Ninguém escreveu ao Coronel,...!

5 comentários:

Anónimo disse...

A esperança é o fio que nos impede de cair no abismo.
Sem dúvida...
Pensando bem é tudo o que nos move. Sem ela nada faria sentido.
Mesmo sendo uma mera ilusão.
Faz parte da nossa pureza e da nossa inocência, acreditar sempre que algo de bom ou melhor está para acontecer.
"Mesmo com os aldrabões dos políticos e respectivas previsões optimistas (a muito longo prazo). Porque agora meus amigos, temos que continuar a apertar o cinto. Mas não desanimem que vem aí o FIM DA CRISE. Até já foi oficialmente anunciada"
Mantenham a ESPERANÇA...

CA

Victor Figueiredo disse...

Oi Anónima !
beijinho
:)

Francisco del Mundo disse...

Caro VF, já li este há algum tempo e estará perdido pelo meu blog um comentário! Eu gostei muito do Coronel, e quando há pouco li o Viver para contarla, associei imediatamente ao avô Nicolas Marquez que tb esperou uma vida pela pensão...
Abraço

Victor Figueiredo disse...

Esse também está na mira! Com tempo...
Depois contarei, também :)
Um abraço

Anónimo disse...

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