11/07/07

As Novas Bacantes, Catherine Clément

Comprei este livro há uns tempos, movido pelo título que sugere a obra de Eurípedes "As Bacantes", tão bem opinada neste site há cerca de 2 anos pela Lisa, e que exaltava o Deus Grego Dionísio, Deus do vinho usualmente conhecido por Baco, numa tragédia grega carregada de mitologia e de simbolismos.
N´ As Novas Bacantes, com uma redacção muito acessível e recheada de frescos diálogos, a escritora Catherine Clément (Por Amor à Índia) recria o texto de Eurípedes transportando-o para os nossos dias na forma de um pequeno romance, desenrolado nas paisagens do vale do Loire no noroeste francês. Num ambiente rural que não lembra nem ao Diabo nem a Dionísio, um professor do Collège de France, Jean Le Bihouic, decide aí passar 15 dias de férias, o tempo suficiente para acabar o seu livro no sossego de Anjou na margem do Loire. Sem se aperceber, cativado pelo quotidiano da aldeia, o ar estóico e petulante de Le Bihouic cai por terra dando lugar ao citadino parisiense cansado da vida, que busca nestas paragens uma réstia de felicidade.
Neste universo, simples e divertidamente, C. Clément vai construindo em torno do professor, simpáticas personagens como Marie-Louise Godeau a generosa dona do hotel, Alain Pantais o jovem presidente da câmara, Agathe Pantais a encantadora mãe de Alain ou o Padre Lornaux presbítero da aldeia com a sua velha sotaina. Apesar de diferentes juízos, todas elas sabem da existência de uma seita de mulheres que ocupa a ilha do Loire – a AGAVE – que em práticas de inspiração hippie se dedica a actividades misteriosas que só os membros conhecem, revelando ao exterior um pretenso carácter humanitário. Exposto aos olhos de Le Bihouic, o tormento da aldeia passa também a ser a sua mais inquietante preocupação à qual dedica o resto do tempo numa hilariante pesquisa acerca do enigmático grupo de mulheres que se reunia naquela ilha, impedindo a toda a força a entrada a qualquer um, onde só o padre a coberto do livre-trânsito da sua sotaina e Le Bihouic sob a máscara de um hábito de um missionário aí conseguem penetrar, para com os próprios olhos verem os rituais há milhares de anos desaparecidos e que inesperadamente a estes ressurgem por entre cânticos, flautas e tambores, transes e uvas pisadas, as BACANTES, reluzindo à claridade do luar com os seios ao léu...onde se incluía Agathe...
E é neste episódio que o agradável conto nos surpreende com um twist que desvenda os verdadeiros contornos da AGAVE em fabulosas práticas jamais vistas por aquela incrédula comunidade e que com elas somos conduzidos a uma fantástica viagem à origem das Bacantes da antiguidade e às suas cerimónias extasiantes em profundo e demente estado de embriaguez.
A fluidez da narrativa proporcionada na descrição dos costumes da aldeola, assume então as proporções de um pequeno policial que nos passa a envolver ainda mais, ao estabelecermos uma cumplicidade com o desventurado professor possuído pela obrigação de ajudar os habitantes, e a procurar entender o papel de um tal Dr. Baccos, o estranho mentor da desdita organização... Tudo nos é revelado num final surpreendentemente trágico mas parco na dimensão por pouco acrescentar.
Quem for conhecedor da tragédia grega que serve de base a esta novela antecipa facilmente o seu desfecho, restando-nos apenas a resignação das restantes páginas finais que nos irão deixar um sabor a pouco, que mesmo assim bem encantaram ao longo de cerca 100 páginas. Coincidência foi pela mesma altura ter comprado na colecção romances históricos do público, A Senhora, da mesma autora, pelo que a expectativa cresceu depois desta pequena experiência literária com C. Clément.

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