07/02/08

A Princesa - D. H. Lawrence

A leitura desta história na forma como foi escrita por Lawrence, deixou-me insatisfeito. Notei que a genialidade com que o autor escreve não se resume àquela amostra de talento deste piqueno livro. Algo de Lawrence ficou por mostrar verdadeiramente quando lemos as vigorosas descrições e as narrações das insípidas aventuras de “A Princesa”.
A história é a que se segue numa pequena síntese: Mary Henrietta perdera a mãe em tenra idade, cresceu segundo a educação que seu pai lhe impregnara, moldando-lhe o carácter com a pureza da sua origem aristocrata, superior aos restantes seres os quais deveria ignorar. Princesa, como lhe chamava o pai, era a última da sua linhagem e os dois formavam o par perfeito. A sua pose virginal ao passear pela rua revelava também distinção, mas sobretudo indiferença com a populaça vulgar, a qual aos seus olhos eram gente de baixa condição, sem modos e grosseiros... Estas atitudes granjeavam repulsa a esse ser pequenino com ar angélico mas ajuizado.
Foi este o carácter construído na sua infância que iria constituir a estrutura moral inabalável para o resto da vida, até perder o pai e desprender-se desses laços que a iriam lançar no caminho da "vulgaridade" como tantas outras, à procura de um companheiro, um homem... Muitos conheceu, essencialmente ricos, artistas, pintores, judeus e outros, mas a chama não apareceu, até conhecer num rancho, Domingo Romero, um mexicano típico, moreno de cabelo liso preto, descendente de vaqueiros e com a mesma expressão esvaziada tal como a princesa... Com estas personagens começa a tomar forma a abordagem que caracteriza algumas das obras de D. H. Lawrence: a apresentação do feminino virginal, senhor do seu nariz, culta e incapaz de mostrar afecto, em confrontação ao masculino personificando o macho sequioso de volúpia, másculo a roçar o animal mas capaz de se render a paixões arrebatadoras numa enternecedora entrega.
Lawrence explora estes aspectos com mestria, expõe o melhor e o pior dos seus personagens levando-os desde o olhar cúmplice que tanto os aproxima como logo a seguir os afasta para os extremos do diâmetro do círculo que acabaram de formar, rompendo-o por vezes em insanos impulsos que trazem à flor da pele sentimentos extremados. Logo a seguir, eles próprios sentem alguma revolta por encontrarem em si, o que mais temiam que fosse exposto... Estes são os aspectos positivos que nos fazem valsar de mão em mão com o amor, o ódio, o desejo e a frigidez.
No entanto, outros aspectos já não me cativaram de igual forma, como a súbita e pouco trabalhada adaptação da princesa do meio social buguês da costa leste americana, expoente da civilização, ao meio rural de um rancho escasso em luxos e com os costumes que uma senhora fria abomina. É sempre difícil uma adaptação destas, sobretudo para "esta princesa". O final surge também algo inesperado, parco em ideias, demonstrando uma tentativa de subtileza na conclusão, que a meu ver, não foi conseguida. Esta obra, “A Princesa”, considero-a como o primeiro passo para uma outra “A Virgem e o Cigano” um dos maiores êxitos literários do escritor, onde este concerteza teve mais espaço para reflectir as suas ideias e qualidades, opondo a moral ao mundano – A Virgem vs O Cigano.

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