17/09/06

Sir Norman Foster

Na última edição da Sábado, já nas últimas páginas, apareceu-me pela fronte o seguinte título:
Como dar vida ao mar MortoA salvação do mar Morto está nas mãos do arquitecto britânico Norman Foster. O projecto pode ajudar à paz no Médio Oriente.
Depois de ler a peça, que me suscitou algumas exclamações, constato que, para além de do artigo onde o profissional de jornalismo entra em campos estranhos à sua actividade, faz a sublimação do arquitecto como se fosse um salvador superveniente na resolução do conflito.
E isso é sustentado apenas nas seguintes observações:
- Sir Foster vai, ao que parece, estudar a construção de vários canais e oleodutos que transportarão a água do mar Vermelho ao mar Morto cujo nível baixou cerca de 20m nos últimos anos devido ao regadio permanente de culturas agrícolas de Israel, Jordânia e Palestina. Foster, num exercício fora da actividade da arquitectura, dá o seu nome à concepção de um sistema de adução e compensação eminentemente técnico e por seu turno muito complexo.
- Sir Foster, irá dar resposta a uma série de problemas nos domínios da engenharia, do ambiente, da economia, da biologia e da química, no mínimo – se me escapou algum sector ajudem-me que eu agradeço!
- Sir Foster, denota aparentemente ter competências para a resolução deste projecto, tal como outros que está a resolver, a título de exemplo o projecto imobiliário da Boavista, em Lisboa, sinal inequívoco do seu curriculum para compreendermos melhor a sua escolha para este estudo do mar Morto;
- Sir Foster irá apresentar uma proposta, que segundo o jornalista, para garantir os níveis hidrográficos normais do mar Morto, a água será “bombeada”, a partir do mar Vermelho, colina acima e depois “libertada” colina abaixo (!) - reparem na simplicidade do vocabulário.
- A Sir Foster não ocorrerá que os empreendimentos turísticos da região (!), procurados pelas águas ricas em minerais e famosas pelas suas propriedades terapêuticas, nunca serão compensados pelas águas do mar Vermelho, mesmo com a “fábrica dessalinizadora” a montante do mar Morto, ou seja, parece-me que tal projecto nunca irá repor os índices de confiança no turismo, e sobretudo, nunca irá repor a estrutura biológica e o ecossistema do mar Morto.
- A Sir Foster não ocorrerá, também, que esses canais percorrem a mesma distância entre o mar Vermelho e o Mar Mediterrâneo, sendo inequivocamente preferível irrigar a partir do Mediterrâneo os ditos campos agrícolas, do que ir buscar uma compensação de água salgada par o mar Morto? Não colocando em causa o equilíbrio ecológico e o nível de agua do mar Morto?!

Ou a Sir Foster interessará mais o facto de o vice-primeiro ministro de Israel, Shimon Peres - elevando o arquitecto aos píncaros - ter dito que acredita que o projecto pode ser um empurrão para o processo de paz no médio oriente, mesmo empurrando o mar Morto para a sua morte anunciada?
Para quem tenha dúvidas, leiam o artigo na Sábado – pág. 96- e confiram, em meia página escrita, sobre o magnífico empurrão para o processo de paz.

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