31/08/07

O Calafrio

O Calafrio (The Turn of The Screw) é o 4.º título de Henry James presente na colecção Livros de Bolso DN. Quem organizou este pequeno acervo, oferta estival do DN, gostaria certamente do escritor, mas essa com certeza não será a única razão para a escolha de 4 livros de Henry James.
A sua produção literária é um rico legado do qual fazem parte um conjunto impressionante de novelas de ficção, como Daisy Miller, Os Europeus ou Retrato de Uma Senhora, e de pequenos contos onde se inclui O Calafrio, ao que parece o mais famoso.
Pequenos contos como este e outros (A Estalagem das Duas Bruxas, O Último Adeus ou O Pequeno Herói) já distribuídos nesta colecção, encaixam perfeitamente na minha noção de livrinho de verão, leve e prático, com história simpática para se ler em qualquer sítio e depois regressar ao bolso. Essa é a outra razão.
Henry James nasceu em Nova Iorque no seio de uma família de intelectuais. Ainda jovem, viajou por muitos países do velho mundo europeu, cujo contraste com a emergente nação americana lhe começou a despertar uma especial sensibilidade e que lhe serviu de mote a muitas das suas novelas. As mais importantes narram a vida de americanos instalados na Europa, dando ênfase ao confronto de culturas e de mentalidades entre o velho e o novo mundo, entre mentalidades conservadoras e liberais.
Todavia, depois de ter vivido em várias cidades europeias, acaba por reconhecer na cidade de Londres a capital da raça humana o que o leva a instalar em Inglaterra, onde também se naturalizou.
É no período vitoriano que decorre este “O Calafrio”, conto invulgar de assombrações e de fantasmas, fora da temática usual de James.
Uma soalheira casa de campo, uma jovem inexperiente tutora e duas crianças à sua custódia, são os elementos principais. A partir daqui desenvolve-se um enredo com aparições fantásticas de dois antigos empregados - um deles a anterior governanta -, que corrompem as crianças levando a tutora a uma estranha obsessão provocada por um clima psicológico tenso, que o escritor tão bem consegue construir. As crianças fecham-se em si e não confirmam a origem da inquietação que assola a mansão, o que faz desconfiar a jovem mulher que as mortes dos ditos empregados ocorrerem em situações suspeitas, acentuando mais o lado sinistro do caso.
Às tantas, recordo-me do filme Os Outros, com a Nicole Kidman, realizado por Alejandro Amenabár que marcou bem o meu catálogo de thriller´s, que envolve também 2 crianças e uma preceptora, numa casa que encerra uma atmosfera ambígua e tenebrosa.
O suspense é uma constante neste conto. O balançar entre a inocência e a maldade, a certeza e a dúvida, o belo e o sombrio, dá a cadência a esta narrativa trágico-dramática, plena de imaginação e de consistência. Que tudo conta e nada revela...
A escrita de Henry James, como se sabe, é rica e agradável. Aqui apresenta um alinhamento que parte da lógica numa crescente sedução. Agora se termina na mesma lógica, caberá a cada um interpretar. Lê-se com gosto até se alcançar a surpresa final em jeito de cereja no topo do bolo. Ou neste caso, de jóia no topo da coroa. Classif.:[16/20]

1 comentário:

Anónimo disse...

de Henry James já li mta coisa.
Este Calafrio escapou-me.

ZT