31/08/07

A Divina Comédia

Surpreendente a inclusão na colecção Livros de Bolso DN, da Divina Comédia de Dante Alighieri e sua viagem pelo Inferno. O Inferno é a primeira de 3 partes. As restantes são o Purgatório e o Paraíso.


Sobre este poeta italiano nunca senti grande atracção. O momento que me senti mais envolvido pela sua obra e pela sua importância foi em Florença, na Praça de Santa Croce, onde defronte à monumental Basílica com o mesmo nome, foi eregida do seu lado esquerdo uma escultura do poeta. No interior da Basílica, entre outros notáveis florentinos, encontra-se também o túmulo de Dante. Existe ainda uma pequena estátua sua num dos pilares do corredor central entre os edifícios das galerias Uffizi, junto ao rio Arno.
Dante [1265-1321] foi interveniente activo na política da época, num quadro geográfico acabado de sair da configuração do império romano, numa Itália diferente da actual dividida por estados autónomos dominados por cidades. Era o caso da pujante Florença, ou de Veneza ou até Génova. Em Florença, os interesses comerciais detidos pelas famílias mais importantes, ditavam o ritmo do quotidiano, sendo a fonte de muitos conflitos que começavam na política representativa desses interesses, e acabavam, por vezes, em guerras civis. Mas, sobre Dante, este site encarrega-se de descrever de forma interessante a sua vida, com especial relevo para os últimos 20 anos sob a condição de estrangeiro em Itália, exilado miseravelmente em várias outras cidades-estado que não a sua cidade natal - Florença.
Sobre a obra, neste caso o Inferno, é um poema construído em parte dos longos 14 anos que a Divina Comédia lhe levou (Comédia, título original). Das referências que retirei de várias fontes fiquei impressionado com a matriz da escrita, escrita essa realizada por uma espécie de rima métrica com 3 linhas de estrofes de 10 sílabas, rimando com esta sequência: ABA, BCB, CDC, etc.., significando que a linha central de cada terceto rima as duas linhas marginais do sequente, que lhe confere, para além do conteúdo erudito, uma bela apresentação e com propósitos vocais patentes no facto de cada terceto antecipar o som que irá ecoar duas vezes no seguinte, dando com essa reverberação a impressão de um movimento poético. Na língua original, o italiano, o efeito é cintilante, claro.
A leitura não é muito fácil como seria de esperar, valeu-me alguns comentários do editor. Contudo, o seu conteúdo é extremanente rico e valoroso para a época. Antecipa uma singular e sábia visão acerca do mundo que o rodeia, materializando em palavras várias metáforas sobre conceitos de índole espiritual, válidos pela sabedoria que emana de um homem cuja vida, se assim quisermos considerar, seguiu a mesma ordem da obra - inferno, purgatório e paraíso -, encerrando no glorioso encontro com Deus.
Esta viagem de Dante aos vários círculos do inferno, tem início numa selva tenebrosa depois de ter perdido o rumo previamente traçado. Daí para a frente todas as imagens que surgem são de pânico, sobretudo quando percebe que o caminho calcorreado é o do inferno. Ali encontra animais pavorosos, uma pantera, um leão faminto, uma loba magra que o empurra para um sítio sinistro. As árvores aparentam fantasmas. A certa altura aparecem pessoas de épocas distintas. A Virgílio, o poeta grego resgatado para a longa jornada, cabe o papel de orientador e conselheiro aliviando o seu estado de espírito desnorteado.
Com a sua iluminação abre o caminho, explica as cenas que se apresentam e discorre sobre a presença de certas pessoas naquele lugar. No Limbo, antes do Inferno, Dante fica a saber de que ali as pessoas não foram baptizadas. No entanto, são pessoas de bem e nada fizeram de mal. Ali se encontram os seus heróis clássicos da época greco-romana. A mentalização da entrada no inferno é levado a cabo por Virgílio, para que Dante se prepare para o inferno. A sua descrição é assustadora, à medida que penetram, dando ideia do que universalmente se designa a um cenário Dantesco.
No percurso atravessa um rio sobre um barco que espelha a instabilidade ameaçadora de um naufrágio, cuja catástrofe lhe daria a provar águas horrendas. A bordo ecoam heresias e uivos, às quais Virgílio se refere como sendo de almas malévolas que pagam seus males com torturas constantes. A partir daí todo o ambiente assume contornos Dantescos. logo a seguir Virgílio pressagia: "...chegados somos onde a luz não brilha...".
Ao passarem pelo sítio do julgamento, Dante começa a reconhecer personagens que em vida cometeram pecados hediondos... Quem serão os que estão no círculo final? Fica a pergunta aqui sem resposta...

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