O Pintor de Batalhas
Tenho reservado para estas férias a continuação da leitura do último livro de Arturo Pérez-Reverte - com foto aqui ao lado -, cujo conteúdo considero, pelas 3 ou 4 páginas que li e pelos resumos, cativante, melancólico, mas promissor de um excelente enredo que nos coloca a matutar sobre a guerra e a maneira como ela entra em nós e nós entramos nela. Outros há, para além de mim, que dela não se conseguem afastar, sejam profissionais das armas bélicas, ou não, como é o caso deste pintor outrora fotógrafo de guerra que não conseguiu, durante uma vida inteira, fazer a fotografia que melhor a representasse..., a ela, à guerra.
Dê-se a devida atenção às primeiras linhas:
«Deu cento e cinquenta braçadas mar adentro e outras tantas de regresso, como todas as manhãs, até sentir sob os pés os calhaus rolados da margem. Secou-se, utilizando a toalha que estava pendurada no tronco de uma árvore trazida pelo mar, vestiu a camisa e as sapatilhas e subiu pela vereda estreita que ligava a enseada à torre de vigia. Aí fez um café e começou a trabalhar, juntando azuis e cinzentos para definir a atmosfera adequada. Durante a noite - cada vez dormia menos e o sono era um dormitar insconstante - tinha decidido que precisaria de tons frios para delimitar a linha melancólica do horizonte, onde uma claridade velada destacava as silhuetas dos guerreiros que caminhavam à beira-mar.»
Como já o fiz saber noutra entrada, concebo Pérez-Reverte como um romancista de contos com predominância na história. Numa entrevista o mesmo caracteriza-se da seguite forma:
"Eu não sou escritor, sou novelista. Conto histórias, tenho vários objectivos: o de entreter as pessoas, o de me entreter a mim, o de recriar o meu mundo, o de render homenagem às minhas coisas. Há uma panóplia de motivos. O novelista é alguém que tem um projecto de vida, é como se tivesse uma casa que vai mobilando. Eu suponho que no meu caso é como se reescrevesse todos os livros que já li, reunindo a vida qu fui vivendo. Quem muito anda e muito lê muito sabe, disse Cervantes, e eu quis ser leitor desde miúdo, li muitíssimo, e viajei constantemente. O livro é o lugar onde podes encaixar as coisas que estás a viver. Sem os livros não há contexto. Os livros ajudaram-me a clarificar a minha vida, o que faço é reescrevê-los. Reescrever desde Homero a Virgílio, a Conrad, a Dostoievski. Eu escrevo porque escrevo num mundo de livros, de recordações, de imaginação, ajusto contas com a memória. Estou num mundo e nele sou muito feliz, e que me permite aguentar toda a merda, a detestável realidade que há."
Sem comentários:
Enviar um comentário