Viver Todos os Dias Cansa - Pedro Paixão
Só o título do livro é cativante. Não o comprei na altura em que foi à estampa, mas se o tivesse visto nos escaparates, mesmo olhando o título de soslaio, de certeza que o olhar ficaria aí retido para o comprar a seguir, e por fim chegar a casa e começar a lê-lo, se entretanto não o tivesse iniciado no taxi ou no autocarro.
Há títulos assim, um perfeito apéritif, cujo partido se começa logo a tirar.
É um livro de pequenas crónicas, 32 histórias breves, subtis, textos mensageiros de pensamentos íntimos, retratos ficcionados do quotidiano, entre chegadas e partidas, com sexo a meio, traços fortes que caracterizam a escrita do autor apesar de não considerar este um dos seus melhores livros.
Démodé? É o que pensam? O que é que é démodé na literatura? Os amantes de Eça ou de Vergílio que o digam, aliás para mim 1998 não me parece muito distante.
Será frustrante chegar depressa ao fim? Já pensei nisso, mas com Pedro Paixão é assim, não há demérito por isso, é simplesmente a vida actual ali representada a correr-nos pelas mãos e pelos olhos, retida apenas na memória para reminiscências do amanhã.
A melhor representação possível, entre tantas, dos ambientes criados pelo autor poderá encontrar-se nestes 2 trechos:
Peixe Vermelho
«Eram três da tarde e, em vez de voltar para o escritório como tinha de ser, resolveu ir ao barbeiro. Não precisava de cortar o cabelo. Do que precisava era de parar para pensar. Há dias em que uma pessoa se sente tão confusa que não consegue continuar.
A vida é uma mistura de coisas que se repetem e de coisas que só acontecem uma vez. O que é estranho é poderem ser as mesmas. Um corte de cabelo, pelo contrário, é sempre irreversível. Talvez fosse por isso que uma visita ao barbeiro lhe surgia como um pequeno marco do qual, como de um banco a que se pudesse subir, se pudesse alcançar melhor por onde se passou e para onde se vai, ou então uma esquina donde convém voltar a olhar para trás uma última vez antes de a virar irremediavelmente. Ir ao barbeiro era uma maneira de pôr a cabeça em ordem.»
O Porto a Quatro Cores
«O que é ser-se português? Não sou sociólogo, mas deve ser uma pessoa não achar nada estranho que haja uma serra que se chama Estrela - digo isto porque conheci uma noite uma americana que julgava que a África começava logo a seguir ao Tejo e se podia ver o Terreiro do Paço, o que aliás não achei necessário corrigir. Portugueses são pessoas que, ao verem jogar o Eusébio, em directo ou indirectamente, sentem vagamente que é de família, cultivam a tradição de cuspir para o chão enquanto passeiam, enfim, coisas assim que se têm em comum.»
Há títulos assim, um perfeito apéritif, cujo partido se começa logo a tirar.
É um livro de pequenas crónicas, 32 histórias breves, subtis, textos mensageiros de pensamentos íntimos, retratos ficcionados do quotidiano, entre chegadas e partidas, com sexo a meio, traços fortes que caracterizam a escrita do autor apesar de não considerar este um dos seus melhores livros.
Démodé? É o que pensam? O que é que é démodé na literatura? Os amantes de Eça ou de Vergílio que o digam, aliás para mim 1998 não me parece muito distante.
Será frustrante chegar depressa ao fim? Já pensei nisso, mas com Pedro Paixão é assim, não há demérito por isso, é simplesmente a vida actual ali representada a correr-nos pelas mãos e pelos olhos, retida apenas na memória para reminiscências do amanhã.
A melhor representação possível, entre tantas, dos ambientes criados pelo autor poderá encontrar-se nestes 2 trechos:
Peixe Vermelho
«Eram três da tarde e, em vez de voltar para o escritório como tinha de ser, resolveu ir ao barbeiro. Não precisava de cortar o cabelo. Do que precisava era de parar para pensar. Há dias em que uma pessoa se sente tão confusa que não consegue continuar.
A vida é uma mistura de coisas que se repetem e de coisas que só acontecem uma vez. O que é estranho é poderem ser as mesmas. Um corte de cabelo, pelo contrário, é sempre irreversível. Talvez fosse por isso que uma visita ao barbeiro lhe surgia como um pequeno marco do qual, como de um banco a que se pudesse subir, se pudesse alcançar melhor por onde se passou e para onde se vai, ou então uma esquina donde convém voltar a olhar para trás uma última vez antes de a virar irremediavelmente. Ir ao barbeiro era uma maneira de pôr a cabeça em ordem.»
O Porto a Quatro Cores
«O que é ser-se português? Não sou sociólogo, mas deve ser uma pessoa não achar nada estranho que haja uma serra que se chama Estrela - digo isto porque conheci uma noite uma americana que julgava que a África começava logo a seguir ao Tejo e se podia ver o Terreiro do Paço, o que aliás não achei necessário corrigir. Portugueses são pessoas que, ao verem jogar o Eusébio, em directo ou indirectamente, sentem vagamente que é de família, cultivam a tradição de cuspir para o chão enquanto passeiam, enfim, coisas assim que se têm em comum.»
3 comentários:
Foi uma ex-namorada ha varios anos que me mostrou Pedro Paixão...Acabei por ler muitos dele... Gostei de uns, menos de outros! Tenho de ler esse...:D
Ai as nossas ex-namoradas…parte do nosso património emocional !
:)
Um abraço
Ofereceram-me este livro há alguns anos e o título cativou-me logo!
Mas só quando reli o livro, é que este me cativou... Ainda bem que fui insistente!
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