Viver Todos os Dias Cansa - Pedro Paixão - #2
O Porto a quatro cores (conto)
«É que o português que eu ouvi falar no Porto é sintaticamente mais elaborado e as palavras mais apropriadas do que o português que se fala em Lisboa. Quero dizer, falam muito melhor. Reparei nisto quando, no banho turco, fiquei muito mais tempo do que é meu costume porque, o vapor tapando-me a vista, deixou-me fascinar pelo som e pela maneira de falar. Diziam coisas em cheio, se assim me posso expressar, o que pressupõe qualidades morais como a coragem e a frontalidade, ou, para ser claro, não falam em português como nós, falam português e pronto.
Mas eu sou mesmo distraído e preciso de me concentrar senão nunca mais acabo de dizer aquilo que quero dizer. Ando às voltas. É que eu não sou do Porto. Se fosse do Porto guiava com maior velocidade e segurança, bebia mais e melhor e não julgava conhecer toda a gente conhecendo, na verdade, tão pouca.»
«É que o português que eu ouvi falar no Porto é sintaticamente mais elaborado e as palavras mais apropriadas do que o português que se fala em Lisboa. Quero dizer, falam muito melhor. Reparei nisto quando, no banho turco, fiquei muito mais tempo do que é meu costume porque, o vapor tapando-me a vista, deixou-me fascinar pelo som e pela maneira de falar. Diziam coisas em cheio, se assim me posso expressar, o que pressupõe qualidades morais como a coragem e a frontalidade, ou, para ser claro, não falam em português como nós, falam português e pronto.
Mas eu sou mesmo distraído e preciso de me concentrar senão nunca mais acabo de dizer aquilo que quero dizer. Ando às voltas. É que eu não sou do Porto. Se fosse do Porto guiava com maior velocidade e segurança, bebia mais e melhor e não julgava conhecer toda a gente conhecendo, na verdade, tão pouca.»
Novamente uma amostragem de pensamentos e de reflexões, com base nas observações do que rodeia o autor. Há coisas que pouca gente liga apesar de se olhar para elas, ignorando assim a sua importância por se pensar que não são importantes e não merecerem que se perca um segundo sequer com elas. É curioso verificar depois, pelo sentido apurado de terceiros, que há certos pormenores nas coisas que escondem pequeninas pérolas, e depois exclamamos como é óbvio, mas o óbvio nem sempre é fácil de alcançar, simplesmente porque nos distraímos e pensamos, encolhendo os ombros, que estamos rodeados de trivialidades.
2 comentários:
Alguem me ensinou um dia que o nosso olhar deve ser atento e o mais trivial dos nossos gestos deve ser saboreado. E tantas vezes o esqueço...
São esses pequenos momentos que dão prazer à vida; são essas pequenas notas que compõem essa sinfonia...
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