01/10/07

Paris Je T´Aime

Realizador: Vários (Gus Van Sant, Alfonso Cuáron, Joel Coen, Walter Salles, Alexander paine, Wes Craven, etc...)
Actores: Seteve Buscemi, Juliette Binoche, Nick Nolte, Willem Dafoe, Natalie Portman, Bob Hoskins, Gena Rowlands, Rufus Sewell, Emily Mortimer, Gérard Dépardieu, Ben Gazzara, Ludvine Sagnier, Fanny Ardant, etc...
Ano:2006
Classificação: Excepcional


Vi-o num dia destes à noite, até altas horas da madrugada. Não se trata de um filme convencional, mas de um encadeamento de histórias distintas com personagens e atmosferas diferentes. São todas rodadas em Paris, cada uma com 5 a 6 minutos e dirigidas por um leque de realizadores internacionais – “c´est un film colectif”. Tal e qual como um livro de contos ou fábulas de vários autores, onde cada um discorre sobre o mesmo tema na sua curta-metragem. Muitos deles são episódios insólitos, alguns com um realismo aceitável, outros inverosímeis ou hiperbolizados, mas a arte destes génios da câmara, aviva e alerta a mente por vezes de forma tão simples e singela, sobre o que significa viver num amontoado de edifícios monumentais ou periféricos, entre 10 ou 12 milhões de pessoas, realçando as suas consequências, sobretudo as intolerâncias do cidadão para com a comunidade retalhada.

Falado maioritariamente na língua de Truffaut, apresenta uma ou outra história em inglês que com certeza não iria agradar ao ex-presidente Chirac. Repetindo uma das deixas que ainda ecoam na cabeça: “Podias falar em françês, uma vez que estamos em Paris”, retorquiu Ludivine Sagnier a Nick Nolte, em Parc Monceau.
Assim interpretei o filme, à mistura de um cheirinho forte da cidade luz ou da cidade do amor, com todo o seu misticismo e encanto arquitectónico tão próprios, tal como o é o seu cosmos que abraça um sem número de raças, credos e estilos de vida, talvez só superado, na Europa, por Londres. Voltando à componente social, muito bem representada, fala-se da dualidade entre franceses e emigrantes, estes últimos magrebinos, árabes, asiáticos e sul-americanos confinados quase sempre, às periferias da memória urbanas num tom cinzento que o betão galopante confere.

É claro que o retrato de uma cidade como Paris, mesmo quando filmada pelos mais jovens realizadores deste lote, vem sempre carregado de emoção e nostalgia. Tal seria impossível de evitar porque em qualquer enquadramento a cidade revela sempre um retalho de uma fachada ornamentada a pedra calcárea, ou o traço das ruas com o equilíbrio geométrico de Haussman, ou uma placa do metro sugerindo a Art Nouveau da Belle Époque, encimados pelo raio de luz giratório emanado da Torre Eiffel ao som de um acordeão.
O meu imaginário desta cidade foi, e é, sobretudo romântico. Penso que nunca deixará de o ser, por isso concluo que Paris não muda, jamais estará diferente da última vez que a vimos... Os amantes terão sempre a sua Paris, como sentenciou Humphrey Bogart a Ingrid Bergman em Casablanca. Esta semana, se Deus ou o Diabo quiserem, vou cultivar esta minha admiração à cidade que Von Choltitz poupou da destruição na 2.ª guerra mundial, como bem me recordou o Cazento.
Place des Victoires de Nobuhiro Suwa, Père-Lachaise de Wes Craven e Place de Fêtes de Oliver Schmitz, das 18 peças, estas foram as minhas preferidas.

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