01/09/06

Gasóleo para aquecimento - Minha Rica Casinha

A 24/02/2005, pagava por litro: 0,522 € ; a 30/11/2005, já paguei na que foi a minha última compra: 0,663€/litro.
O governo, ao que parece, vai tomar a decisão do aumento da carga fiscal que incide sobre o gasóleo para aquecimento. Excelente medida, tendo em conta o objectivo da redução das emissões de CO2 para a atmosfera. Não esqueçamos que nos últimos 5 anos houve um aumento de 35%; e porquê? No que toca aos edifícios e às famílias – 40% correspondem à parte dos edifícios - o luso-aburguesamento é a principal causa. Não há casa que não tenha 2 carros, pelo menos. E, claro, a gaseificar diariamente. Não há habitação recente que não tenha previsto a caldeira e a bela chaminé em inox resplandecente para aquecimento central, e o ar condicionado, e o piso radiante, e o chorrilho de lâmpadas incandescentes nas paredes e jardins, e a aspiração central, e a hidromassagem – carolas, estas duas últimas. Agora entrámos na era da "domótica", que aplica electrónica e informática ao serviço das pessoas: casas com equipamento específico para pessoas que têm que ser inteligentes! À parte desse luxo, muito pano para mangas haveria ao falar-se sobre o primário desempenho energético dos edifícios – sim, aquelas placas azuis de “esferovite” para o isolamento térmico. E os alumínios? Ficamos por aqui…

Em Abril, o D.L. 79/2006, passou a obrigar nas habitações novas, a instalação de colectores solares para produção de água quente sanitária. Finalmente, após tantos anos, passa a ser obrigatório o aproveitamento de uma fonte de energia que temos para dar e vender. Finalmente obrigaram-nos a perceber que assim é muito mais barato levar água quente às torneiras; ou quase de borla, face ao preço do gasóleo e do gás.

Mas impõe-se uma questão: o governo, nos últimos anos, incentivou a instalação das caldeiras a gasóleo pela permissão da utilização do gasóleo agrícola, e agora por último, pela venda a preços aceitáveis do gasóleo para aquecimento – aquela coisa pastosa que entope os queimadores e que agora vai ficar ao preço do gasóleo rodoviário (220 mirréis por litro). O que é que os portugueses vão fazer a esses monos cúbicos da “roca” – passe a publicidade - que vivem nas caixas de escadas e nas garagens? Onde é que eles vão morrer? É justo abandonar esses sistemas e aplicar os painéis solares sem que hajam os mesmos incentivos? Pergunto mais: será que vão ser abandonados?
Porque senão, repare-se: a obrigação dos painéis é para as casas novas e para as grandes reabilitações (mais uma coisa ambígua, esta última), mas, o grosso da habitação está concluído cabendo lá 20 milhões de portugueses, tantas é a habitação devoluta. Que fatia da população é que vai fazer casa nova neste cenário, e ao preço que anda o dinheiro?

2 comentários:

Cazento disse...

Já quis comentar este post, Víctor, mas algo me interrompeu e não cheguei a fazê-lo.

Isto porque o que o que aqui diz, faz-me reflectir um pouco:

Eu devo ser um indivíduo extremamente amigo do ambiente, senão vejamos:

1 - Não uso sequer água quente em casa a não ser para lavar a louça (manualmente). Seja verão ou inverno tomo banho com água fria desde que me conheço;

2 - quanto a carros, bom digamos que tenho o meu e por vezes utilizo outros às vezes de grande cilindrada, mas em média mensal não farei mais do que 2000 Km/mês e não o utilizo o meu ou outro qualquer diariamente;

3 - a minha casa fica situada num apartamento no r/c e tenho um parqueamenteo no -2, mas nunca utilizo o elevador seja para subir ou descer;

4 - vivo só eu próprio na minha casa, logo gasto muito pouca energia, sendo a maior parte por causa do computador;

5 - não tenho nem ar condicionado nem aquecedores: no verão suporto o calor, no inverno suporto o frio.

6 - Tenho poucos bens materiais e só compro roupa quando é indispensável.


Que diabo, será que eu não devia ser compensado de todo este sacrifício?
Confesso que já tenho pensado nisso.

Eu acho que devia ter um desconto nos impostos, pois poluo pouco ou nada, e à minha conta deve ser muito pouco o CO2 que se acumulou na atmosfera ao longo dos últimos 48 anos (que é a minha idade, Lolo!!).

Enfim...injustiças.

Bom, agora quanto à questão do tal gasóleo de aquecimento, pois eu tenho um familiar que há uns anos atrás quando construiu a sua casa optou primeiro pelo gás, depois pelo gasóleo de aquecimento e actualmente acho que está a instalar os tais painéis solares, mas todas essas transformações têm-lhe saído caras.

Acho que percebo o seu ponto de vista, Víctor, como quererá o (des)governo português criar uma verdadeira alternativa sem um apoio a essa transformação para os que já têm as instalações de gasóleo para o aquecimento central a funcionar há muito tempo?

Mas será que o (des)governo deverá mesmo dar algum apoio a isso?
Será que o (des)governo português deverá utilizar também os meus impostos (logo eu que não poluo quase nada), para apoiar este tipo de alterações?
Sinceramente, e com muita pena, acho que não. Se as pessoas forem realmente amigas do ambiente só terão uma de duas alternativas: ou fazem a transformação para os painéis à sua conta, ou agasalham-se melhor em casa no inverno, para suportarem o frio (que de ano para ano cada vez é menos).

É claro que, na pratica, tal como sugere no post, o que vai acontecer é que quem tem aquecimento a gasóleo, deixa-se ficar como está e pronto. Mais uma medida que é mais aparência do que realidade.

Ah, e já agora, porque é que ninguém toma em conta os biliões de toneladas de CO2 que vão para a atmosfera em cada verão, por fogo posto ou negliência?

Não será isso pior e muito mais pernicioso e evitável do que ser um grande consumidor/poluidor?

De qualquer forma, cá está mais um post seu com uma excelente questão sobre um tema da actualidade.

Um abraço,
João

Victor Figueiredo disse...

João:
Por Endovélico!
Você é um verdadeiro lusitano!
Na generalidade você é um minimalista e um liberal, tal como eu – numas coisas mais, noutras menos. Digamos que na comparação das duas posições, você aparece com uma ideia mais liberal que a minha, pois face à sua eu estou a ser um pouco socialista – o que me deixa admirado, porque até defendo os liberais.
No entanto há dois factores que fazem a grande diferença entre as duas posições. Você está no sul, em Odivelas, e eu estou em Viseu com Invernos muito mais rigorosos. Além disso tem uma “carapaça” que com certeza eu não devo ter, pois mesmo na capital eu não dispenso a água quente no Inverno. :) o que significa que não tem grandes necessidades de calor fora do estio. Isso eleva-o para uma condição, como cidadão, diferente da minha e necessariamente a noções diferentes. Mas, compreendo a sua posição. É de facto uma injustiça para quem não agride o ambiente, não sendo beneficiado em nada com isso.

Mas eu sinto bem na pele o valor do gasóleo sempre que ligo o aquecimento central, mesmo comparticipado. E agora com o galope dos preços, e com esta possível machadada sinto-me realmente defaudado. Pois repare-se, o governo aplicou e aplica taxas baixas a uma fonte de energia extremamente poluente, o que levou muitos portugueses, motivados, na sua ignorância, a instalar sistemas caros que irão durar no mínimo duas décadas.
Lembre-se que o gasóleo agrícola em 2000 estava a 54$00/Litro.
Se assim foi, porque não taxar com valores mais baixos ou dar benefícios fiscais à utilização de uma energia limpa?

Agora, o que é que um cidadão normal irá fazer nestes dois cenários: escolher um sistema de painéis que custa cerca de 2.500€ - sem os ditos benefícios - e que aquece apenas as águas das torneiras, pois ainda não são viáveis para o aquecimento, ou manter a caldeira a gasóleo mesmo perdendo a redução fiscal do combustível sempre durará até ao fim da vida, com afinações esporádicas?
Não seria uma excelente política incentivar a instalação destes sistemas para que, pelo menos para já, tivéssemos água quente quase de borla no seu aquecimento, e se propiciassem sinais no mercado para estímulo da investigação na melhoria do desempenho dos painéis para que a curto prazo estes também fossem viáveis para o aquecimento central? Aliás, incentivos à semelhança dos que já são dados às empresas que investigam no campo da bio-massa e no aproveitamento das energias eólicas e das marés? Energias todas elas renováveis?!

Assim, muitos, provavelmente a maioria dos que já têm casa, vão manter a caldeira a gasóleo, e as emissões para a atmosfera, ao nível da habitação, não sofrerão as reduções fixadas.

A questão dos incêndios, João, olhe, nem a vou classificar. Tive oportunidade de acompanhar alguns incêndios e reparei nos métodos de organização da protecção civil que poderiam ser muitíssimo mais eficientes. Depois, comunicam pouco com os media e procuram parecer bem, sobretudo entre as 12h00 e as 13h30, repetindo-se o mesmo à hora dos jornais da noite. E quem é que paga a factura… Enfim, só depois de resolver muita coisinha aqui no nosso rectângulo – mando eu aqui e mandas tu ali – é que passaríamos a ter tempo para pensar nas brutais emissões de CO2 - e outros gases – para a atmosfera.

Um abraço

Victor