Tanto Que Eu Não Te disse - Marta Gautier
Romance de aprendizagem de relações. Viver, pensar, sentir, amargurar, recalcar e nada dizer. Não reagir. Não fazer notar àqueles que mais nos dizem o que mais merecem, para o bem ou para o mal. Sobretudo para o bem. E por vezes, o que fica por dizer cria grandes obstáculos nas nossas relações.
É sobre isto que Marta escreve, procurando fazer-nos refletir e mesmo mudar a nossa actuação. É um romance de aprendizagem com aplicação no relacionamento interpessoal - esse grande chavão.
A personagem é uma jovem mulher, que face à idade da autora somos levados a crer que a jovem retratada é ela própria. Talvez o seja, porém experiente psicóloga que é, pode este retrato dirigir-se para algum caso singular com que lidou.
Esta vê a sua vida escondida dos dias luminosos, enfiada na escuridão da sua casa e da sua alma, humedecida invariavelmente pelas lágrimas. A sua auto-estima foi deixada algures no passado. O amor próprio nunca floresceu, nunca exteriorizou o que tinha dentro de si à medida que o tempo passava na convivência de seus pais. Sentia e pensava, por tudo o que ficou por dizer, por todas as discussões que não teve, pela carência de afectos da qual julgou ter padecido. Mas, nunca os pais a deixaram de amar, simplesmente, e ela própria o constata, a educaram como souberam e como julgaram ser melhor. Impedida pela angústia, nunca conseguiu mandar para fora o que tanto a inquietava desde a infância, e só se revelou na idade adulta. Durante as sessões de terapia foi dando conta que culpava os pais pelo seu estado, o que a levou a ter um acto de coragem que exaltou o bem-estar consigo própria. Quando estava a fazer progressos, a aprender a amar o seu ego, a apreciar o dia a dia, a abrir a janela, a arejar o mofo e a sacudir o pó da casa e da sua alma, engravida, e aí, descobre a dificuldade que é ser mãe e conseguir educar uma filha sem que os seus próprios desejos interfiram.
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