19/10/06

Francês renascentista do Século XIX


Depois de ter escrito tantas histórias trágicas, - diz o autor do manuscrito – acabarei com aquela que entre todas me custa mais contar. Vou falar da famosa abadessa do Convento da Visitação em Castro, Helena de Campireali, cujo processo e morte deram tanto que falar na alta sociedade de Roma e da Itália.

Stendhal, Contos Italianos. Edição reservada aos Amigos do Livro.

1 comentário:

Victor Figueiredo disse...

Retirado de: "longtakk.blogs.sapo.pt/arquivos/2005"

«Stendhal..

Francês de nascimento, o escritor Henry Beyle, mais conhecido como Stendhal, tinha um sol mediterrâneo no peito. A sua pátria por adopção e por admiração era, no lugar da terra gaulesa de seus ancestrais, a Itália. Viveu anos na península e encontrou por lá o cenário ideal para expressar a sua percepção particular do mundo e da sociedade que o cercavam. Livros como a Cartuxa de Parma e O Vermelho e o Negro (este último, para muitos, tido como sua obra-prima) demonstram bem o que o autor pensava dos seus contemporâneos, criticando a hipocrisia social e a propalada astúcia política da aristocracia e da alta burguesia do seu tempo. Iniciando a sua própria corrente, “beylismo”, Stendhal retratou amores impossíveis, aventureiros que desafiavam o poder dos príncipes, muitos assassinatos e conspirações e muitas das atitudes típicas dos renascentistas, pelo menos os italianos. Um critico ao seu tempo, um espectador atento aos problemas da sua época.


Nascido em 1783 e morto em 1842, Stendhal foi, segundo vários críticos, o grande intérprete, ao lado de Balzac, o autor de A Comédia Humana, da sociedade francesa no período que sucedeu a Napoleão Bonaparte. A princípio combatente do bonapartismo para, em seguida, passar a admirar o imperador, presenciou de perto as mutações que a sociedade francesa enfrentou, desde Napoleão até à Restauração, passando por Luís XVIII, Carlos X e Luís Felipe.
As intrigas palacianas, as invejas, as conspirações e o fausto da corte serviram como uma luva para que ele tirasse as suas conclusões sobre a vivência humana, em geral, e da nobreza em particular. É isso o que ele faz em alguns dos seus textos, mostrando, com mestria, que a nobreza verdadeira está no espírito e não necessariamente na corrente sanguínea de tons azulados de homens empoados e com grandes perucas.
Para Stendhal, ser nobre estava nos actos, nos pensamentos e não nos salões. Ou seja, os actos de coragem, os gestos apaixonados estão irremediavelmente perdidos no tempo e só sobrevivem no ambiente ficcional. O tempo de Stendhal é um tempo, segundo ele, de pouca determinação e muita ambição, muita conspiração e pouca coragem individual. O colectivo toma o lugar do indivíduo, e essa massa sem face dava o tom na sociedade.


O curioso na obra de Stendhal é que ele, apesar da sua prolífica produção, nunca conheceu o sucesso editorial em vida. Pelo contrário.. por nenhuma das suas obras Stendhal conheceu a fama na sua época. Um dos motivos para o seu anonimato, será, sem dúvida, a vertente explicitamente critica dos seus textos, "escabrosos" para a época. Mesmo as Crónicas Italianas nunca foram reunidas em livro enquanto o autor esteve vivo. O volume só chegou às livrarias francesas em 1855, 13 anos após a morte de Stendhal, na mesma época em que foram editadas as suas obras completas.
De qualquer forma, mesmo tendo sido perseguido, de certo modo, em vida e não conseguido o reconhecimento desejado como grande escritor no seu tempo, a posteridade encarregou-se de corrigir o erro. Hoje, Stendhal é considerado um dos mais importantes escritores, criador de um estilo particular de ver o mundo e de colocá-lo em papel, criticando por elipse o que o rodeava.
Para mim, escritores como Stendhal, continuam a ter um papel deveras importante no que respeita a vícios e atitudes da sociedade actual. As obras para além da sua qualidade, estão vivas e actuais, são vozes do passado que disfarçadamente se manifesta nos dias que correm. E eu sou um dos apreciadores desta escrita.


"França, país onde a planta chamada amor tem sempre medo do ridículo, é abafada pelas exigências da paixão nacional, a vaidade, e quase nunca chega a toda a sua altura."

"Todas as religiões são fundadas no medo de muitos e na inteligência de poucos."

"O amor tem sido para mim sempre o maior dos assuntos, ou, antes, o único."

Stendhal
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