15/10/06

Beatriz Costa - Sem Papas Na Língua

Ando a passar os olhos por este cativante livro editado pela primeira vez em 1975, que mandou cá para fora, até 2003, 41000 exemplares.

Tem um belíssimo prefácio de Jorge Amado onde de forma certeira, resume num dos parágrafos o carácter da Sr.ª D.ª Beatriz Costa:

«Que a criança tenha saído pura e limpa de tão terrível experiência é compreensível, pois era apenas vítima do complot da miséria e da ruindade - mas que tenha arrancado do coração qualquer mágoa contra a vida e a humanidade, que tenha superado a amargura e a desconfiança em relação ao ser humano e fizesse da sua vida uma festa de alegria, eis o que nos dá a medida da grandeza dessa mulher admirável, por tantos títulos admirável.»

Beatriz Costa, logo no início "manda dar uma volta" o leitor que venha em busca de literatura, que a deixe em paz - diz ela - e que vá ler o Camilo Castelo Branco. :)
É um livro que em jeito biográfico não assumido, vai relatando de forma desprendida e graciosa, a sua vida desde a chegada a Lisboa no colo da mãe, como conheceu a vida dos teatros ainda de tenra idade, os ofícios que tomou, as grandes amizades, as hipocrisias de ídolos do povo, até aos memoráveis espectáculos, viagens e filmes que deram forma e enriqueceram a vida da Sr.ª D.ª Beatriz, a “saloia” nascida no Concelho de Mafra, talvez a mais genuína “artista” da “Revista” portuguesa.

Uma das curiosidades na organização da narração são as referências a vários artistas, poetas e escritores, - alguns seus conhecidos - com que vai intitulando os burlescos episódios, através de oportunas e perspicazes citações:

«Sei lá como canto, canto com o corpo todo! (A uma senhora que lhe perguntou: Como canta?)» Alfredo Marceneiro.

«A mulher só é fiel à moda.» Justino Martins.

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