Contos, Eça de Queirós

Para além das suas principais características de notável retratista literário da sociedade portuguesa, sua contemporânea, e de romancista de novelas de fundo com extraordinários enredos, Eça comprovou também as suas capacidades de contista de histórias curtas. Na generalidade versam sobre temas como o amor – quase nunca correspondido -, as relações familiares, os meios urbanos onde decorrem, fotografias autênticas dos cenários que envolveram os escritos, ou a solidão que arremessa o indivíduo para a margem da sociedade.
Singularidades de uma rapariga loira, atinge um determinado extracto social pela ironia e pela paródia, representado a nova burguesia e o que à volta dela girava (e ainda gira) pelos seus hábitos e tiques sociais, onde o parecer sobrepõe-se sempre ao ser. Por outro lado, os contos O Tesouro e O Defunto, já decorrem num ambiente medieval onde Eça resgata o classicismo dessa altura.
No entanto, não me canso de adjectivar em elogio a escrita queirosiana, a narração rica em detalhes, a prosa trabalhada e fluida que seduz pela perfeição da sua construção. Em duas palavras: envolve e seduz. Em Civilização revisitei com muito agrado o personagem Jacinto de A Cidade e as Serras já aqui falado.
Como referi, os contos mais contemporâneos são para mim, de longe os mais interessantes. E mesmos escritos há cerca de um século primam pela sua modernidade e actualidade, acertando nos mesmos alvos que na altura em que foram escritos.
Sublinhe-se o relevo que é dado ao personagem tipo proveniente do novo-riquismo, bem instalado na vida, conformado e pouco renvindicativo, caracterizado pela ingenuidade de quem já nasceu burguês, à semelhança do que sucede em Alves & C.ia, onde Eça capta a cegueira e a passividade do jovem urbano burguês que cai nas graças do feminino, expondo o ridículo da inocência que ainda preserva.
Vale sempre a pena regressar a Eça quanto mais não seja por via destes contos que demonstram a genialidade das descrições das classes sociais, testemunhos únicos e bem trabalhados daquelas décadas que antecederam o século vinte, cuja essência dos enredos, mais previsíveis ou não, espantosamente pouco ou nada diferem dos dramas actuais.
Vale sempre a pena regressar a Eça quanto mais não seja por via destes contos que demonstram a genialidade das descrições das classes sociais, testemunhos únicos e bem trabalhados daquelas décadas que antecederam o século vinte, cuja essência dos enredos, mais previsíveis ou não, espantosamente pouco ou nada diferem dos dramas actuais.
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