23/06/06

Há coincidências, sim senhora (!) actualizado

Nem de propósito! (belo título para um blog!)
Mas o que me traz aqui não é isso, até porque já tenho um, e dá para tudo :) O que me levou a partilhar isto são as filhas da mãe das coincidências, que não me tornam nem mais nem menos supersticioso, coisa que nunca fui, à excepção dos dias de exame na faculdade que estranhamente me faziam entrar com o pé direito.

Cá vai: falei com alguém na net sobre o Baptista-Bastos (BB) trazendo à baila, na sequência de Salazar muito evocado ultimamente (é melhor não por os links...), o seu livro "
O Cavalo a Tinta-da-China". Vai daí, que hoje (dia 22/06) fui à feirinha cá do burgo, como diz este Senhor, e encontro a um especialíssimo preço o dito livro.


Satisfeito da vida, ainda dedilhei mais alguns títulos como quem passa entre os dedos postais erguidos uns atrás dos outros, mas nada. Nada que valha.

De cima, do patamar da praça, chegava um som tocado ao vivo a soar a Jazz, mas bom Jazz! Nem é tarde nem é cedo, subo ladeira acima, sento-me à fresca e mato a sede com algo espirituoso, ouvindo uma rica versão de Herbie Hancock - Cantaloupe Island, tocado pelo Quinteto Paulo Lima, cuja versão original ouvi aqui, encaminhado pelo André (amc-porque.blogspot.com/). Mas a cereja no topo ainda estava para chegar, quando me fiz ao livro no meio das notas musicais:


BB entra em cena com um apólogo de Ma Yoan, pintor e poeta chinês, séc. XIII


O mandarim ordenou-me lhe ensinasse

a desenhar um cavalo suspenso,
com a tinta proibida dos secretos ideogramas.


O mandarim era um homem medroso, soberbo,

perverso e ignorante.


Um sábio solerte e raro induzira-o a crer

que ao assim desenhar um cavalo suspenso,

no reverso granulado de um círculo

de folha de arroz,

feita por mãos molhadas de lágrimas

tantas e amargas,

era-lhe concedida a graça inexplicável

da imortalidade.


O mandarim desconhecia,

porque o sábio solerte e raro lhe não revelara,
que, ao cabo de indeterminado número de sextas luas,

as lágrimas tantas e amargas,

ocultas no coração da folha,
renasciam de tanta e amarga dor

e afogavam o cavalo suspenso.

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