03/06/08

78.ª Feira do Livro de Lisboa

Para quem gosta da feira do livro com este figurino que já anda no nosso imaginário há décadas, pode começar a preparar-se para mudanças. As enternecedoras barraquinhas feitas de tábuas sobrepostas umas às outras, com 3 balcões cobertos por uma pala de madeira que se eleva para proteger (mal) os livros expostos, e que todos os anos são pintadas consoante a disposição dos organizadores, parece-me que têm os dias contados. Para além de terem uma estrutura frágil e de não evitarem que a chuva caia sobre os balcões cheios de livros, o que é um absurdo pois quem paga quer os livros secos e desempenados, o design que esteve na sua concepção está obsoleto, sem mencionar no espaço inútil no interior. Como se verificou este ano, não faz sentido nenhum continuar com este tipo de expositor em feiras a céu aberto sujeitas às novas intempéries primaveris do séc. XXI, com chuva, vento e frio.
Como alternativa, a ideia do grupo Leya pareceu-me interessante, porém precisa de algumas correcções. À medida que calcorreava os sobrados, reparei que alguns livros tombaram das prateleiras por diversas vezes, o que me levou a esboçar vários sorrisos pensando na inexperiência daqueles tipos. Seja como for, inovaram.
A ideia está lançada, por mais que custe a muita gente a Leya optimizou e dividiu a área de venda por vários espaços em redor de uma única caixa, todos com aspecto inovador, diferente, confortável para os actuais meses de Maio, e mais funcionais. O mercado é assim mesmo, já aconteceu lá fora, os editores são reunidos numa só empresa surgindo daí novos conceitos e ideias para desempoeirar e tirar o mofo que se instala, com o hábito e o costume a impedirem uma visão sob novas perspectivas.
Depois de me ter abrigado por cerca de meia-hora no pavilhão dos pequenos editores, dei início à minha voltinha de cima a baixo e vice-versa, de guarda-chuva aberto por vezes. Soube-me bem aquele borburinho, aquela ansiedade de saber o que vou encontrar nas laterais da Assírio & Alvim, na Europa-América e dependências, na Antígona, na Relógio D´Água, nos alfarrabistas (meus principais fornecedores), ver alguns autores, ouvir opiniões à boca dos balcões de pares e de grupos de amigos acerca do Ruben A. ou do Jack London, receber os doutos e altivos pareceres dos vendedores sobre os autores em destaque, as colecções, o livro do dia, os descontinuados, as raridades que ainda se encontram, e as pechinchas - essas sim. 1 euro, 2 ou 3 euros, leve que vale a pena, mesmo que o não leia todo há partes que valem bem a compra, aconselhavam-me naquele familiar tom de confiança enquanto degustava um gelado.
Olhei de relance para Filomena Mónica que me pareceu cada vez mais na mesma, já Eduardo Lourenço dei de caras com ele quando menos esperava. O circunspecto Moita Flores levava o semblante do investigador que matutava sobre mais um caso, e ao Francisco José Viegas achei-o mais..., espaçoso. Lembrei-me da sua foto na contra-capa do Regresso por um Rio, comprado há um ano no pavilhão Rosa Mota, em que exibia a preto e branco aqueles ares do ex-selecionador António Oliveira..., típicos do norte.
Em suma, sem o sol a radiar e os pardais a cantar, cumpriu-se mais uma feira. Para o ano há mais, falta saber como e qual o atraso na data da inauguração.

1 comentário:

Pedro disse...

Bem irónico, o teu poste... =P Mas verdadeiro.

Eu não achei o Espaço LeYa a melhor solução, mas... Como dizes, inovaram!
Enfim, ir à Feira é uma tradição, não é? Saímos de lá com livros, a mais ou a menos. Achei, até, que os descontos foram muito bons, estava à espera de mais caros!